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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Alofones; sons da fala e grafemas: exemplos e definição

1) ALOFONES


Os sons que formam as oposições que distinguem o significado das palavras se chamam fonemas.

Os sons que não distinguem o significado das palavras e são apenas variantes de um mesmo fonema se chamam alofones.

Entendendo

A exemplo, no Brasil, há oposição fonológica entre os sons /s/ e /ʃ/, o primeiro aparece na palavra soco ['sokʊ] (golpe com a mão fechada, murro) e o segundo na palavra choco ['ʃokʊ] (ovo que está se desenvolvendo no embrião), portanto podemos dizer que /s/ e /ʃ/ são dois fonemas do português.

No entanto, a palavra tosco, realizada por falantes florianopolitanos e paulistanos, traz, respectivamente, as seguintes produções: ['toʃkʊ] e ['toskʊ].

Apesar dos sons [s] e [ʃ] estarem presentes nessas produções, as duas palavras não apresentam sentidos distintos, todas as duas produções querem dizer “algo não lapidado ou polido, grosseiro” (FERREIRA, 2004). A troca de um som pelo outro não produz mudança de significado. Nessa situação, tais sons são considerados variantes fonológicas ou alofones de um mesmo fonema e não dois fonemas como ocorreu com soco e choco. Em geral, usa-se um desses alofones para representar o fonema.

A escolha desse representante é feita em função de sua maior presença na língua (ou seja, qual dos alofones seria mais comum) ou na facilidade de explicação levando em conta princípios mais naturais, quer articulatórios ou em relação ao equilíbrio de valores fonológicos dentro de sistemas linguísticos.

A representação de fonemas é feita entre barras simples, como /s/, a das variantes (alofones) é mostrada entre colchetes [s].

Outro exemplo de alofones em distribuição complementar vem também do português brasileiro. Nos dialetos mineiro e carioca, por exemplo, o fonema /t/ realiza-se foneticamente como [t] ou [tʃ], a depender da posição em que ocorre na palavra.

[tʃ] ocorre diante da vogal [i], como em "tia" ['tʃia] ou "latim" [la'tʃĩ] e [t] diante das demais vogais ("tua" ['tua], "tombo" ['tõbu]). Nesse caso, tanto [t] quanto [tʃ] são alofones ou variantes previsíveis (pelo contexto em que ocorrem) de um mesmo segmento abstrato, o fonema /t/.

A exemplo do espanhol, o fonema /b/ de /báso/ vaso, se realiza como oclusivo no contexto [úm báso] un vaso, mas como fricativo em [ése βáso] ese vaso.


Poderíamos dizer:



Fonemas       Alofones


                               [b] – [úm bóte] → un bote
/b/
             [β] – [ése βóte] → ese bote


                              [d] - [úņ déðo] → un dedo
/d/
                              [ð] - [ése ðéðo] → ese dedo



                             [g] - [úŋ gáto] → un gato
/g/
                             [ɣ] - [ése ɣáto] → ese gato



2) Falta de correspondência entre sons da fala e grafemas


Enquanto ciência que investiga os sons da fala nas várias línguas do mundo, a fonética necessita de um sistema notacional para representá-los. A princípio, pode parecer que o sistema alfabético de conta dessa tarefa. No entanto, se pensarmos em exemplos do português, logo notaremos que uma letra (grafema) não corresponde necessariamente a um som, de modo que mais de um som pode ser representado pela mesma letra ou, ao contrário, um mesmo som pode ser representado por diversas letras, conforme ilustra o quadro a seguir:





diferença grafemas e sons da fala


A falta de correspondência entre sons e grafemas, que resulta do fato de ser a escrita uma representação da fala, existe nas outras línguas que se utilizam de sistemas alfabéticos. E acontece não só no interior de uma língua, mas entre línguas diferentes. Basta considerar que, na Língua Inglesa, a sequência ph grafa o mesmo som representado, na Língua Portuguesa, pela letra f.




Bibliografia:

SILVA, Adelaide Hercília Pescatori. Língua Portuguesa I: fonética e fonologia. Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2007.

Lazarotto-volcão, Cristiane; Nunes, Vanessa Gonzaga; Seara, Izabel Christine. Fonética e Fonologia do Português. 2. Ed. Florianópolis: LLV/CCE/UFSC, 2011.

QUILIS, Antonio & FERNÁNDEZ, Joseph A. Curso de fonética y fonología españolas. Madrid, Consejo Superior de Investigaciones Científicas. 1992.

Referência: wikipedia/alofonia

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

As consoantes e vogais do português: curso de fonética e fonologia; exemplos e definição

1)CLASSIFICAÇÃO DAS CONSOANTES


Os segmentos consonantais dividem-se em dois grandes grupos: os denominados segmentos surdos ou não-vozeados, e os chamados sonoros ou vozeados. Esse parâmetro relacionado à vibração ou não das pregas vocais é definido como vozeamento.

A maneira como o ar passa pelas cavidades supraglóticas é definida como modo de articulação. Para a caracterização de consoantes, deve-se levar em conta também a posição dos articuladores passivos e ativos quando produzem tais segmentos. A relação entre esses articuladores é definida como o ponto de articulação.



Quadro de fonemas consonantais do português do Brasil classificados segundo seu vozeamento, modo e ponto de articulação.

quadro de fonemas consonantais do portugues br
(clique para ampliar)

CONSOANTE

CLASSIFICAÇÃO
EXEMPLOS
TRANSCRIÇÕES

OCLUSIVAS



[p]
Oclusiva bilabial surda
paca
['pakɐ]
[b]
Oclusiva
bilabial sonora
bata
['batɐ]
[t]
Oclusiva
dental-alveolar surda
toca
['tɔkɐ]
[d]
Oclus. dental-alveolar
sonora
data
['datɐ]
[k]
Oclusiva
velar surda
cada
['kadɐ]
[g]
Oclusiva
velar sonora
gota
['gotɐ]

AFRICADAS



[tʃ]
Africada
alveopalatal surda
tia
['tʃiɐ]
[dʒ]
Africada
alveopalatal sonora
dia
['dʒiɐ]

FRICATIVAS



[f]
Fricativa
labiodental surda
faca
['fakɐ]
[v]
Fricativa
labiodental sonora
vaca
['vakɐ]
[s]
Fricativa
alveolar surda
saca
cós
['sakɐ]
['kɔs]
[z]
Fricativa
alveolar sonora
azar
cazar
[a'zax]
[ka'zax]
[ʃ]
Fricativa
alveopalatal surda
chata
xícara
['ʃatə]
['ʃikaɾɐ]
[ʒ]
Fricativa
alveopalatal sonora
jaca
gema
['ʒakɐ]
['ʒemɐ]
[x]*
Fricativa
velar surda
mar
corta
carta
['max]
['x]
['kaxtɐ]
[ɣ]*
Fricativa
velar sonora
corda
carga
['ɣdɐ]
['ka
ɣgɐ]
[h]
Fricativa
glotal surda
corta
['kɔhtɐ]
[ɦ]
Fricativa
glotal sonora
corda
['kɔɦdɐ]
[χ]
Fricativa
uvular surda
roda
parte
['χɔdɐ]
['paχtʃɪ]
[ʁ]
Fricativa
uvular sonora
barba
['baʁbɐ]

NASAIS




[m]
Nasal
bilabial sonora
mala
['barbɐ]
[n]
Nasal
alveolar sonora
nata
['natɐ]
[ɲ ]
Nasal
palatal sonora
sonho
['soɲʊ]

TEPE



[ɾ]
Tepe
alveolar sonora
caro
['kaɾʊ]

VIBRANTE



[r]
Vibrante
alveolar sonora
rio
caro
['riʊ]
['karʊ]
[ʀ]
Vibrante
uvular sonora
rota
turvo
['rɔtɐ]
['tuʀvʊ]

RETROFLEXA




[ɽ ]
Retroflexa
alveolar sonora
porca
['pɔɽkɐ]

APROXIMANTE



[ɹ]
Aproximante
alveolar
sonora
prato
['pɹatʊ]

LATERAL



[l]**
Lateral
alveolar sonora
lata
['latɐ]
[ʎ ]
Lateral
palatal sonora
palha
['paʎɐ]
[ɬ]
Lateral
velar sonora
mal
['maɬ]
 
*Pronúncia típica do dialeto carioca.

** A lateral alveolar tem como variante uma consoante velarizada, representada pelo símbolo [ɬ], que pode ser encontrada em coda silábica (mal [['maɬ]) em algumas regiões do Brasil, como em Porto Alegre, por exemplo. No entanto, também pode vocalizar-se em posição final de sílaba, sendo transcrita, nesse caso, como uma semivogal [w].


1.1)Outros símbolos fonéticos na literatura:




Os símbolos listados acima devem ser suficientes para caracterizar a fala sem distúrbios de qualquer falante do português brasileiro. Tais símbolos são propostos pela Associação Internacional de Fonética. Observa-se contudo na literatura a utilização de alguns símbolos concorrentes aqueles listados na tabela acima.


A Associação Internacional de Fonética, por exemplo, propõe o símbolo [ʧ] (este é o segmento inicial da palavra “tcheco”). Na literatura, encontra-se o símbolo [č] para representar o mesmo segmento africado alveopalatal desvozeado (“tcheco”). O símbolo [č] é geralmente utilizado na literatura norte-americana.


Abaixo estão os símbolos fonéticos concorrentes aos do alfabeto da Associação Internacional de Fonética.



símbolos fonéticos concorrentes aos da AFI

 

2)CLASSIFICAÇÃO DAS VOGAIS


Quando classificamos os sons vocálicos, primeiramente consideramos a altura da língua, em seguida os classificamos em função de movimento horizontal da língua, isto é, quanto à sua anterioridade (avanço) ou posterioridade (recuo) da língua. Por fim, anotamos as características relativas ao arredondamento dos lábios.


Quadro de fonemas vocálicos do português do Brasil em posição pré-tônica, tônica e pós-tônica.

quadro de fonemas vocálicos do portugues
 (clique para ampliar)


* Esses segmentos só vão aparecer em palavras derivadas como cafezinho, bolinha, nas quais as sílabas tônicas são, respectivamente, “zi” e “li”, mas cujas sílabas pré-tônicas “fe” e “bo” possuem um acento secundário herdado de suas correspondentes palavras de origem.

** Esses segmentos aparecerão de forma minoritária em algumas regiões do Brasil, como por exemplo na capital do estado do Paraná.

VOGAL

CLASSIFICAÇÃO
EXEMPLOS
TRANSCRIÇÕES

ALTA



[i]
Alta anterior
não-arredondada
picado
digo
[pi'kadʊ]
['digʊ]
[ɪ]
Alta anterior
não-arredondada
(átona final de palavra)
tapete
[ta'petɪ]
[u]
Alta posterior
arredondada
tabulado
tudo
[tabu'ladʊ]
['tudʊ]
[ʊ]
Alta posterior
arredondada
(átona final de palavra)
tudo
['tudʊ]

MÉDIA ALTA



[e]
Média alta anterior
não-arredondada
terei
tapete
leite
[te'ɾej]
[ta'petɪ]
['lejte]
[o]
Média alta
arredondada
colado
todo
pato
[ko'ladʊ]
['todʊ]
['pato]

MÉDIA BAIXA




[ɔ]
Média baixa
arredondada
pozinho
[pɔ'zĩɲʊ]
['pɔ]
[ɛ]
Média baixa anterior
não-arredondada
pezinho
[pɛ'zĩɲʊ]
['pɛ]

BAIXA



[a]
Baixa anterior
acaba
pacata
[a'kabɐ]
[pa'katɐ]
[ɐ]
Baixa central
(átona final de palavra)
pacata
[pa'katɐ]

As transcrições feitas com os colchetes ([ ]) referem-se à produção das palavras exemplificadas, e o símbolo (') sinaliza que a sílaba que o segue é a tônica da palavra (ou seja, nas transcrições fonéticas, esse símbolo deve ser colocado antes da sílaba tônica).



Bibliografia: Lazarotto-volcão, Cristiane; Nunes, Vanessa Gonzaga; Seara, Izabel Christine. Fonética e Fonologia do Português. 2. Ed. Florianópolis : LLV/CCE/UFSC, 2011.