quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Análise crítica de Casa Tomada, de Julio Cortázar

 
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A história


Na história, um casal de irmãos vivem juntos em uma casa grande e velha, situada no norte do distrito de Bueno Aires. Eles passam seus dias fazendo coisas simples e rotineiras. Irene tricota, seu irmão lê livros e usualmente sai para comprá-los. Ambos limpam a casa e cozinham juntos. 

Um dia eles ouvem barulhos misteriosos que aos poucos vão tomando os cômodos da casa. Apesar da constante perda de espaço por essa força desconhecida, eles parecem não se chocar com tudo aquilo.
Sem haver explicações claras, eles abandonam partes da casa por causa dessa invasão que o autor não revela quem ou o que é. Quando finalmente esse "outro" domina completamente todos espaços, os irmãos saem da casa sem levar nada consigo.
O livro é escrito em primeira pessoa com o narrador (irmão) sendo o protagonista da história. Isso adiciona realismo na história em contraste com o "desconhecido" que invade a casa e traz um elemento “surreal” na história.
O protagonista e a irmã vivem no distrito de Bueno Aires, numa rica e privilegiada situação econômica. A casa em que vivem possui muitos quartos, o que nos faz pensar que sua família ocupava esses espaços no passado.
Essa casa grande onde vivem, certamente pertencia a esses antigos parentes e eles (o casal de irmãos) provavelmente eram os últimos da linhagem de sua família: "Guardaba los recuerdos de nuestros bisabuelos, el abuelo paterno, nuestros padres y toda la infancia".
É possível notar que eles não precisam trabalhar para viver e que passam a maior parte do tempo fazendo pequenas atividades, como limpar, ler, tricotar e tendo pouquíssimos contatos com o mundo exterior.
Os irmãos parecem ser obcecados pela rotina e pela limpeza da casa. E sabe-se pouco sobre o narrador, exceto de que gosta de literatura francesa. E que sua irmã é uma mulher muito passiva e que se sente muito feliz por passar seu tempo tricotando.
Os irmãos vivem um romance incestuoso, passam seu tempo apenas um com o outro e são desinteressados nas pessoas que vivem no mundo lá fora: "Simple y silencioso matrimonio de hermanos".
A casa é personificada na história: "a veces llegamos a pensar que era ella que nos dejó casar". O que nos mostra algum tipo de controle que a casa tem sobre os irmãos e que cria uma barreira entre eles e o mundo lá fora. O único momento em que o narrador (o irmão) sai da casa é para comprar seus livros de literatura francesa. Já a irmã (Irene) nunca sai da casa e passa seus dias tricotando.
A casa mostra tudo sobre os irmãos; suas atividades diárias, hobbies e até personalidade. Uma vez que eles perdem os espaços da casa por essa força estranha e desconhecida, eles acabam perdendo também sua identidade.

O desconhecido


Os irmãos no final da história podem ser vistos como os que se tornaram "os de fora", pois eles acabam tendo que sair por essa ocupação do "desconhecido" e não tem pra onde ir.
Eles que haviam diversos objetos e atividades no início da história, pouco a pouco, os veem sendo tomados e acabam indo embora sem nada. "Tuviste tiempo de traer alguna cosa - le pregunté inultimente. - No, nada".
Os "outros" são invasores que são apresentados como desconhecidos inimigos. Eles são também referenciados no plural durante a história, como, por exemplo, quando eles tomam a primeira parte da casa: - "Tuve que cerrar la puerta del pasillo. Han tomado parte del fondo". E possível que o leitor automaticamente presuma que é mais de um esse "outro" que invade a casa.
Durante a história, o autor não deixa pistas de quem ou o que aqueles barulhos são e os irmãos não necessariamente se sentem assustados ou chocados por aquilo. Um exemplo é a passagem em que o irmão diz a Irene que haviam tomado a parte de trás: "dejó caer el tejido y me miró con sus graves ojos cansados - Estas seguro? Senti. - Entonces - dijo recogiendo las agujas - tendremos que vivir en este lado."
Ela não mostra nenhum medo e apenas continua tricotando. Eles parecem ter conhecimento sobre o que ou quem invadiu a casa e agem sozinhos defendendo a si próprios contra a invasão. No final da história, os invasores ainda são misteriosos personagens para o leitor e nos deixa indagações.
Há inúmeras interpretações para o significado por trás de Casa Tomada, sendo uma delas a de que Cortázar usou a relação entre os irmãos, "os outros" e a casa, uma forma de responder a uma questão social e política que ocorria em Bueno Aires no passado.


Uma metáfora sobre o “desconhecido”


Sobre isso, há uma metáfora para essa perda da casa pelos irmãos pela “força desconhecida”. A questão é que a oligarquia e as classes hegemônicas (da qual o casal fazia parte) não podiam tolerar que lhe tomassem a casa pelos que vinham de fora. A casa estava a ponto de ser tomada pela “chusma ultramarina” (experiência da imigração espanhola e italiana que a oligarquia argentina viu como maus olhos, ao final do século XIX e início do XX). 
Na época, a política imigratória peronista foi a da espontaneidade, e isso significava que qualquer um poderia vir. Espontaneidade significava abertura; não havia limites religiosos ou culturais para aqueles que viriam. As elites desapreciavam esses imigrantes e os chamavam de “la chusma ultramarina”.





Bibliografia: CORTÁZAR, Julio. Casa Tomada. Disponível em: <>.http://www.ciudadseva.com/textos/cuentos/esp/cortazar/casa_tomada.htm>. Acesso em: 03 fev. 2016.

Referência:<>.https://www.youtube.com/watch?v=_pPhYoKqwk0>. e
<>.http://www.ukessays.com/essays/spanish/treatment-of-the-outsider.php>.


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