1) As
estratégias
de construção da narrativa (título, epígrafes, nota do autor e
estrutura).
Título:
Segundo o próprio autor,
o título gramaticalmente correto deveria ser ‘Estive em Lisboa e
me lembrei de você’, mas que segundo ele: “não se fala mais
assim lá”. Em referência ao “mineires” de Cataguases, Minas
Gerais, em que seus moradores por peculiaridade não utilizam o
pronome reflexivo, nesse caso, o pronome ‘me’. O título também
nos cria um imaginário sobre quando viajamos, vemos lojas de
souvenires e lembramos de alguém que está longe, e que queremos
presentear.
Epígrafe:
Em uma obra literária, epígrafe é uma curta citação colocada em
uma página no início da obra ou em destaque na abertura de um
capítulo. Funciona como um resumo do que se vai ler em seguida.
No
livro, Ruffato utiliza como epigrafo o poema ‘Brasil’ de Miguel
Torga, português, que emigrou para o Brasil ainda criança para
trabalhar e que volta à Portugal poucos anos depois com intuito de
estudar. E o poema se encaixa perfeitamente à narrativa do livro, e
prepara o leitor para a temática que seguirá os capítulos:
imigração, saudade, desilusão, incerteza, medo e a ligação a
flor da pele entre os dois países.
Nota:
A nota no livro já é bem esclarecedora de como a história será
contada. Através dela, Ruffato deixa claro suas intenções de
transcrever ao máximo as falas de Sérgio de Souza Sampaio,
personagem principal do livro. Na nota, o que segue “é o
depoimento, minimamente editado [...] gravado em quatro sessões, nas
tardes de sábado dos dias 9, 16, 23 e 30 de julho de 2005, nas
dependências do Solar dos Galegos, localizado no alto das escadinhas
da Calçada do Duque, zona história de Lisboa.” Assinada pelo
autor como L.R, essa nota nos remete a realidade dos acontecimentos
que virão.
Estrutura:
O livro segue uma estrutura ‘moderna’, de leitura rápida, de
poucas páginas e se divide em duas partes: ‘Como parei de fumar’
e ‘ Como voltei a fumar’.
A
primeira, com Serginho ainda morando no Brasil, mas especificamente
em Cataguases (MG). Nesse primeiro momento conhecemos o personagem a
partir de acontecimentos muito específicos da vida dele sem adentrar
muito em seu passado: é apresentado seu modo de vida na cidade;
quando ele se casa; quando turbilhões de problemas aparecem e quando
ele decide ir para Lisboa. Nessa primeira parte, é possível também
ver mais forte a presença da fala mineira e suas expressões
peculiares: “piriri”, “engalfinharam”, “perereco”.
‘Como
voltei a fumar’ é a segunda parte do livro, em que Serginho já se
encontra em Portugal. Nesse momento, Sergio descobre as diferenças
lingüísticas e culturais de Lisboa. É nessa parte também que o
drama da imigração aparece mais forte e vivo, junto com as
expressões próprias daquele país: “Adeusinho”,
“Chapéu-de-chuva”, “tasca”
que Serginho reproduz com freqüência.2) Destaque traços da linguagem utilizada e comente-os.
No
livro, o autor procura manter a oralidade da figura central
(Serginho), que fala o “mineires”, numa tentativa de transcrever
um sotaque mineiro à escrita narrativa do livro. Há uma
reconstrução de memória do personagem, que torna a leitura do
livro até mais envolvente e, ao mesmo tempo, até mais difícil, por
seu linguajar peculiar. Esses traços o autor faz questão de
preservar, deixando claro em suas entrevistas, que nem ao menos se
preocupa com a dificuldade que seria traduzir o livro para outras
línguas. Ruffato diz que “A memória coletiva se realiza quando
essa literatura está além dela própria.”
Para
ele, a importância da literatura é “passar as fronteiras dela
mesma; escrever numa língua específica, num tempo específico,
sobre algo específico e poder falar para todas as línguas, para
todos os tempos e para todas as pessoas.”.
Se destaca também as marcas de expressões do linguajar de Sergio enquanto estava em Minas Gerais: “destrinchar”, “procê”, “um trem esquisito”, “estrebuchar”, “já ir morrendo”. E quando estava em Lisboa: “borrego”, “patrício”, “gajo”, “pa bosê”, “às papas”, “fastio”.
Se destaca também as marcas de expressões do linguajar de Sergio enquanto estava em Minas Gerais: “destrinchar”, “procê”, “um trem esquisito”, “estrebuchar”, “já ir morrendo”. E quando estava em Lisboa: “borrego”, “patrício”, “gajo”, “pa bosê”, “às papas”, “fastio”.
3)
Discorra sobre a questão migratória (Brasil-Portugal,
Portugal-Brasil) a partir do livro de Ruffato.
O
personagem tem um amor pela cidade em que ele não está mais
(Cataguases) e também o amor pela nova vida em novo país
(Portugal), lugar em que ele passa a conhecer aos poucos. O drama
está em volta do fator imigratório, tão comum e cada vez mais
forte na atualidade.
Serginho se vê numa situação em que passa dificuldades e sofre com o fato de estar em um lugar que é ao mesmo tempo estranho e maravilhoso. Além do fato de estar numa condição em que muitos se encontram atualmente: imigrar para melhorar de vida.
Serginho se vê numa situação em que passa dificuldades e sofre com o fato de estar em um lugar que é ao mesmo tempo estranho e maravilhoso. Além do fato de estar numa condição em que muitos se encontram atualmente: imigrar para melhorar de vida.
No
livro podemos ver duas situações, Serginho que viaja para Europa
para melhorar de vida, e seu vizinho que fez o caminho inverso: veio
de Portugal para o Brasil e conquistou uma boa vida no país através das
duas lojas de panificação.
No
decorrer do livro também, vemos o encontro de Sergio com uma
brasileira em Portugal, que acaba se tornando sua paixão. Sendo esse
também um ponto marcante na construção e evolução do personagem
no novo continente, pois se trata de uma relação afetiva de
solidariedade que é comumente encontrada entre imigrantes.
Bibliografia: RUFFATO, Luiz. Estive em Lisboa e lembrei de você. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
Referência: <https://www.youtube.com/watch?v=73I60YLYO3M> e
<https://www.youtube.com/watch?v=yXn-Jaz1zSE>.
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