quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Exercícios feitos sobre Estruturalismo do livro Manual de Linguística, de Martelotta

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1. Comente a afirmativa saussuriana: “A língua é um sistema cujas partes podem e devem ser consideradas em sua solidariedade sincrônica” (Saussure, 1975). 

 

A distinção feita por Saussure entre a investigação diacrônica e a investigação sincrônica representa duas rotas que separam alinguística estática da linguística evolutiva. “É sincrônico tudo quanto se relacione com o aspecto estático da nossa ciência, diacrônico tudo que diz respeito às evoluções. Assim, o estudo sincrônico de uma língua tem como finalidade a descrição de um determinado estado dessa língua em um determinado momento no tempo. 

O estruturalismo proposto por Saussure não apenas aponta as diferenças entre essas duas formas de investigação, mas, sobretudo, registra a prioridade do estudo sincrônico sobre o diacrônico. Ou seja, para Saussure, o linguista deve estudar principalmente o sistema da língua pois, para os falantes que não tem têm informações acerca da história evolutiva de sua língua, a realidade dela é o seu estado sincrônico.

 

2. Defina os conceitos de “língua” e “fala”. 

 

Seguindo as ideias de dicotomias de Saussure, a linguagem deve ser tomada como um objeto duplo, uma vez que o “fenômeno linguístico apresenta perpetuamente duas faces que se correspondem e das quais uma não vale senão pela outra” (Saussure, 1975:15). Assim sendo, a linguagem tem um lado social, a língua, e um lado individual, a fala, sendo impossível conceber um sem o outro.

Para Saussure a língua é um sistema supraindividual utilizado como meio de comunicação entre os membros de uma comunidade. Sua existência decorre de uma espécie de contrato implícito que é estabelecido entre esses membros. Dai seu caráter social. Para Saussure, o indivíduo, sozinho, não pode criar nem modificar a língua.

Diferentemente, a fala constitui o uso individual do sistema que caracteriza a língua. Nas palavras de Saussure, é “um ato individual de vontade e de inteligência” (1975:22). Trata-se portanto, da utilização prática e concreta de um código de língua. 
De acordo com Saussure, a língua é a condição da fala, uma vez que, quando falamos, estamos submetidos ao sistema estabelecido de regras que correspondem à língua. Portanto, o objeto de estudo específico da linguística estrutural é a língua, e não a fala, sendo esta última tomada como objeto secundário.

 

3. Um dos postulados de base da linguística estrutural é o que o signo é arbitrário. Explique o que significa essa afirmação. 

 


Que relação podemos observar entre a sequência “linguagem” e o sentido a ela atribuído. Quando nos referimos a “livro” como “conjunto de folhas de papel capaz de guardar uma obra literária, científica, artística, etc.”, haveria alguma motivação especial para a escolha desse termo (“livro”), e não a de um outro qualquer?

Afirmar que o signo linguístico é arbitrário, como fez Saussure, significa reconhecer que não existe uma relação necessária, natural, entre a sua imagem acústica (seu significante) e o sentido a que ela nos remete (seu significado). Contudo, ele reconhece que a arbitrariedade é limitada por associações e motivações relativas: assim, “vinte” é imotivado, mas “dezenove” não o é no mesmo grau, porque evoca os termos dos quais se compõe, “dez” e “nove”. No entanto, esses exemplos são pouco numerosos e, como observa Saussure, a língua é social, portanto, não está ao alcance do indivíduo nela promover mudanças. 

 

4. A linguística estrutural reconhece o princípio saussuriano de que todo o mecanismo linguístico repousa sobre relações de dois tipos: sintagmática e paradigmática. Explique tal princípio.

 

As relações sintagmáticas decorrem do caráter linear da linguagem e se relacionam às diversas possibilidades de combinação entre essas unidades.

Devemos entender como sintagmáticas as relações in praesentia, ou seja, entre dois ou mais termos que estão presentes (antecedentes ou subsequentes) em um mesmo contexto sintático. 
Essa análise pode se dar no nível fonológico, no nível morfológico e no nível sintático. No nível morfológico, por exemplo, os morfemas se unem para formar a palavra.
 

Ex: Menin – o,   in     - feliz   – mente. 
         (RAD)       (VT)    (PREF)            (RAD)          (SUF) 

(RAD: Radical, VT: Vogal Temática, PREF: Prefixo, SUF: Sufixo) 
 

Além das relações sintagmáticas que dizem respeito à distribuição linear das unidades na estrutura, as línguas apresentam relações paradigmáticas. 
As relações paradigmáticas manifestam-se como relações in absentia, pois para ela as línguas apresentam relações associativas que dizem respeito à associação mental que se dá entre a unidade linguística que ocupa um determinado contexto (uma determinada posição na frase) e todas as outras unidades ausentes que, por pertencerem à mesma classe daquela que está presente, poderiam substituí-las nesse mesmo contexto. 

Assim, a palavra “livreiro”, por exemplo, está associada a elementos como “livro” e “livraria” a partir do radical que está na base desses elementos. Bem como podemos estabelecer uma outra série de relações paradigmáticas tomando como base o sufixo: “leiteiro”, “sapateiro”, “garimpeiro”, entre outros. 

Adotando uma perspectiva estruturalista, podemos afirmar, então, que o que permite o funcionamento da língua é o sistema de valores constituído pelas associações, combinações e exclusões verificadas entre as unidades linguísticas. 

 

5. A afirmativa de que “a linguística tem por único e verdadeiro objeto a língua considerada em si mesma e por si mesma”, que finaliza o texto do Curso de linguística geral, é fundamental para que possamos compreender os postulados de Saussure. Faça alguns comentários a respeito dessa questão. 

 

Uma vez afirmada como ciência, delimitando objeto e metodologia próprios, a linguística reivindica sua autonomia em relação às outras áreas do conhecimento. No passado, o estudo da linguagem se subordinava, por exemplo, às investigações da Filosofia através da Lógica.

Sobretudo a partir do início do século XX, com a publicação do Curso de linguística geral (marco inicial da chamada linguística moderna), instaura-se uma nova postura, e os estudiosos da linguagem adquirem consciência da tarefa que lhes cabe: utilizando-se de uma metodologia adequada, estudar, analisar, e descrever as línguas a partir dos elementos formais que lhe são próprios. Essa abordagem estruturalista de Saussure entende que a língua é forma (estrutura), e não substância (a matéria a partir da qual ela se manifestou).  

Essa concepção de linguagem tem como consequência o princípio de que a língua deve ser estudada em si mesma e por si mesma. Nessa perspectiva, ficam excluídas as relações entre língua e sociedade, língua e cultura, língua e distribuição geográfica ou qualquer outra relação que não seja absolutamente relacionada com a organização interna dos elementos que constituem o sistema linguístico.

 

6. Aponte três características da linguística descritiva norte-americana (distribucionalismo) que fazem dela uma vertente do estruturalismo saussuriano.


O objetivo da teoria formulada por Bloomfield é a elaboração de um sistema de conceitos aplicáveis à descrição sincrônica de qualquer língua. Dentre alguns elementos convergentes com o estruturalismo, podemos apontar os seguintes pressupostos:


 a. A estruturação é evidenciada a partir de três níveis – o fonológico, o morfológico e o sintático – que constituem uma hierarquia;

b. Cada nível é constituído por unidades do nível imediatamente inferior: as construções são sequências de palavras; as palavras, sequência de morfemas; os morfemas, sequências de fonemas;

c. Cada unidade é definida em função de sua posição estrutural – de acordo com os elementos que a precedem e que a seguem na construção.
 
 
Em suma, a linguística descritiva tem como método a observação de um corpus para descrever seus elementos constituintes de acordo com a possibilidade de eles se associarem entre si de maneira linear. Ou seja, as partes de uma língua apresentam certas posições particulares relacionadas umas às outras. Trata-se, portanto, de um método puramente descritivo e que corrobora o entendimento de que todas as frases de uma língua são formadas pela combinação de construções – os seus constituintes -, e não de uma simples sequência de elementos discretos. 

 

 

 

Bibliografia: MARTELOTTA, Mário Eduardo (Org.). Manual de Linguística. São Paulo: Contexto, 2015.

12 comentários:

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  2. Parabéns pelas respostas, pois ajudaram-me muito a construir as minhas próprias. :)

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  3. MUITO OBRIGADA,VOCÊ NEM IMAGINA QUANTO ME AJUDA A ENTENDER ESSA MATÉRIA ,OBRIGADA MESMO...

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  4. Poxa, valeu mesmo! Me ajudou muito na compreensão.

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  5. Seu blog é de extrema utilidade aos que ousam estudar a Linguística, além de ter textos fluidos e de boa qualidade. Obrigado pelas postagens.

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  6. Ajudou-me bastante para o esclarecimento acerca do respectivo assunto.

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  7. Muito legal esse blog, me ajudou bastante.

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  8. Obrigado por seu blog, salvou uma vida aqui

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